sábado, 22 de outubro de 2011

A menina do olhar azul


Apesar de seus olhos castanhos claro, seu olhar era azul.
Azul profundo, mar de emoções submersas, cheios de corais afiados, mas também de peixes lindos e coloridos.
Seu olhar parece procurar um fantasma, louco e doente. Não sabe onde ele está, porém o sente todos os dias na sua casa.
Tem medo dessa assombração, pois crê que pode possuí-la, devorá-la sem deixar resquícios do que era ela.
O azul está no seu olhar, mas não está só lá. Está na sua rotina, na sua vida diária e por que não em seu coração?
O peso da vida a faz abaixar a cabeça em solidão na aula cansativa.
Entretanto é forte, e com um empenho indescritível e misterioso ela segura o choro, assim achando motivação para seguir em frente (aparentemente contente).

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Triste Tereza


     Uma jovem entra em seu quarto com um olhar perdido e cansado. Deixa cair sua mochila no chão e deita na cama de qualquer jeito, sem vontades. Sua perna não fala com seu tronco e esse não se comunica com o pescoço que se esqueceu da cabeça, seu corpo não é um só, é só um monte de peças separadas que não se entendem. Sua roupa pesa no corpo, mas nem pensa em tirá-la, seu desânimo é tanto que até o acento circunflexo na palavra desânimo parece desnecessário e enfático demais. Quase tudo ao seu redor é um peso, um fardo, e por mais que estar deitada em vez de estar fazendo qualquer outra coisa seja algo “bom”, ela não se sente nem um pouco entusiasmada.
     Tereza se contorce preguiçosamente no colchão antes de fechar seus olhos castanhos e sonhar com o vazio. Na escuridão de uma tarde de sol ela permanece no quarto até a luz da noite romper seu sono. Seu íntimo deseja uma chuva intransponível nesse dia de sexta-feira para não permiti-la sair de casa. Porém não deseja ficar em casa, porque na realidade não deseja nada. Sua rotina sem sentido condena sua vontade de se entreter, não há sentido em se divertir, pois não há sentido no que faz. Tereza é estudante e por isso não faz propriamente algo como um trabalho, seu trabalho é apenas aceitar o que lhe falam e decorar.
     Levanta-se e vai ao banheiro a passos lentos, se olha no espelho e joga água na cara mais de uma vez tentando trazer vida a seu rosto morto. As gotas percorrem a curva de sua face suave e algumas pingam de sua franja. Passa a mão em seu cabelo castanho semi-curto e semi-liso e o deixa cair novamente tampando uma parte de sua triste beleza. Cada movimento de seu corpo e cada tarefa por ela desempenhada parecem tomar um tempo demasiado, seus pensamentos e devaneios a dominam constantemente. Sua estatura média e delgada a tornam de uma instigante atração.
     Agora parece caminhar de volta para o quarto com algo na mão, um vibrador. Deixa-se deitar na cama e se cobre com o cobertor. Liga-o, então, pois não pretende fazer esforços. De repente, antes que inicie o ritual solitário, começa a chorar. Não sabe o porquê, mas as lagrimas escorrem do seu rosto limpando o nada que a habita. Nesse momento algo nela muda, algo o qual ela não se dá conta. Desliga o objeto erótico e se levanta, resolve ir até a janela. Seu choro continua lentamente como um riacho tímido no sertão. Olha os carros e as pessoas passarem, admirando a noite urbana. O coração bate e ela o nota dando um longo suspiro.  Seu choro cessa.  

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Metáforas da (minha) vida


Ao me sentir sozinho em casa, imaginei um filme do Woody Allen como uma espécie de terapia improvisada, pois me faria sentir a companhia de alguém que me entende e que tem questões existenciais como eu.  O filme que vi foi seu penúltimo trabalho chamado “you will meet a tall dark stranger” o qual tem como idéia central o realista pensamento de que às vezes as ilusões são melhores que os remédios. Mal posso expressar em palavras quão desesperançoso é esse pensamento e quão desapontante foi o filme pra mim. Dentre as várias histórias das personagens do filme apenas uma acaba com certa perspectiva positiva, e é justamente a que se entrega a ilusão.
Tudo bem, a vida não precisa ter necessariamente uma luz no fim do túnel, mas ao menos precisamos sentir as paredes e o chão desse túnel para sabermos que estamos caminhando na direção oposta a qual entramos. É, isso talvez me traga um pouco de alivio, sentir que estou caminhando para frente, mas não é fácil ter esse sentimento. Muitas vezes apenas me sinto parado pensando para qual lado devo andar e pra onde fica a saída dessa incansável trilha que não parece me levar a lugar nenhum. Porém, continuo andando com esperança de encontrar esperança e, até lá, talvez eu possa ir cantando uma canção, uma doce e forte canção, para quem sabe esquecer-se desse breu que me cerca.
Acima entrei demasiadamente em uma metáfora a qual não precisa, em nada, ser referente à minha realidade. Talvez eu possa contar outras metáforas das quais lembrem minha vida, mas que no fundo eu nunca saberei o quanto de verdade ou o quanto de fantasia elas contém. Minha vida também pode ser comparada a um carrossel. Nele eu rodo sempre em torno de uma mesma questão: as mulheres, ou melhor, a falta delas, ou melhor ainda, a dificuldade de ao mesmo tempo querer-las e não querer-las mais.
As coisas ultimamente não me parecem muito natural, apenas pareço corresponder às expectativas dos outros. Sinto uma falta de controle sobre minhas relações, como se eu não pudesse esperar pacientemente as coisas acontecerem sem eu as empurrar de modo grosseiro. As relações acontecem e se estabelecem quando menos notamos, mas eu as noto demais! Já disse em sessão (terapêutica) sobre o surf ser o esporte que mais tem a ensinar sobre a vida, pois nele apenas surfamos em cima de uma onda e aproveitamos o máximo desse momento. Porém o grande lance desse esporte é a paciência de esperar as ondas boas virem, pois só essas são gratificantes.