segunda-feira, 3 de abril de 2017

presa

Acorda antes do sol,
já agitado e atento a tudo.
Vai atrás de água e cada
passo é dado com cuidado
e controle do corpo

Para. Ouve algo próximo,
talvez algo perigoso.
Imóvel, com o coração acelerado,
força a respiração ofegante
até dolorosamente diminuir
e não fazer barulho

O som ameaçador se aproxima.
Sente-se como uma pequena presa
diante do maior de todos os predadores.
Move-se lentamente
em busca de qualquer amparo.
Sua mão alcança o interruptor e
acende a luz da cozinha.

O homem bebe a água ainda tenso,
como se houvessem flechas
sendo atiradas a cada segundo
em seu relógio vital

Sente um calafrio em seus pés
descalços vindo do piso de mármore.
O grande vazio permanece à espreita
prestes a lhe devorar.

Útero

Vivo no útero da solidão
Mexo, viro, chuto
Sugo o amor e a indiferença
(desses dois não sei a diferença)
Almejo o parto, o sangue e a dor
A luz no fim do túnel vaginal
A luz da vida nova,
Da vida própria