quarta-feira, 18 de novembro de 2015

espírito holográfico

Vai continuar chovendo no seu aniversário, mesmo você não estando aqui. Por um momento suspeitei ser esse o primeiro dezenove de novembro, desde mil novecentos e noventa e quatro, sem chuva. Mas aí está, faz um dia nublado e triste sem você. Admito, porém, a beleza das cores desse dia. Os azuis e cinzas ressoam em uma frágil harmonia daqui da minha janela. Nada mais que mais nada. O vazio da mente é a plenitude de outro lugar, de outro fuso horário. Da minha janela gostaria de enxergar o meridiano de Greenwitch, mas só enxergo meu jardim ‘por fazer’. 

Hoje, por ironia, plantei nossos girassóis. É, talvez nem seja ironia, talvez seja um sinal, pois justo agora nós giramos sós. Tudo bem, eu acho lindo pensar em você como uma gata livre e independente, que vaga pelo mundo sem dono. Seus olhos felinos brilham através da câmera escura e refletem seu espírito holográfico. 

Não quero ser seu porto. Faça de mim seu marinheiro de todos os rios e oceanos. Jogo-lhe a âncora quando não mais suportar as tempestades e a recolho em um instante quando cansar-se da firmeza da terra. Somos um barco a remo sem pressa e sem rumo. Fluímos e isso basta.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

escritos de guardanapo II

decadente

na noite nublada
protegida da chuva
estrela cadente
passa desapercebida


pensei

em viajar com meu amor,
mas meu amor que viajou.
pela estrada de chão
de poeira sufocante


vermelho acimentado

no concreto o fogo
não espalha
e as cinzas voam
[parecendo]
penas de cimento