sexta-feira, 9 de março de 2018

fim do horário de verão



Acordei bem cedo, pra um domingo,
ainda tonto de cachaça. Talvez
essa junção de álcool com
o fim do horário de verão tenha
deixado meu organismo confuso

O que sei é que a luz
do dia ainda é gentil
com as fachadas dos prédios,
deixando espaços para o vento
abraçar as janelas e trazer
vagamente as imagens de ontem

Seu biquíni e glitter invadindo
minha noite nada carnavalesca;
você boiando na cama, distante,
se deixando levar pelas ondas
de músicas tristes; eu viajando
pelo seu corpo montanhoso

Seu rosto contendo todo o brilho da noite,
iluminando os boêmios desse bairro frio e
alienado; nosso calor passando pela fresta
da porta (assim como a lembrança
agora) cobrindo com carinho
todos os moradores da rua


quinta-feira, 8 de março de 2018

obsessões ao vento

Correr atrás do vento é demasiado abstrato para a poesia
Melhor ser o vento fugindo escandalizado
das obsessões dos homens

Do planalto periférico onde o gado ouve o chamado do mar
e permanece estático esperando o suor se transformar
em água potável e o cansaço em prato feito

Do subsolo de um arranha-céu onde
um volvo preto persegue a vulva dourada
e mancha de sangue o couro sem cheiro

Mas é do quarto azul, de um homem hemorrágico,
que o vento mais se afasta (deixando o bafo da morte à espreita)
Enquanto, a ninfa dança em torno da cama
abrindo um buraco sem fundo de momentos inexistentes