terça-feira, 16 de agosto de 2016

Alquimia poética

Há por aí, em algum lugar escuro e úmido, uma substância impura, composta por poesia e prepotência poética. Tal matéria não é sólida e tampouco abstrata. Circula nas veias da terra e é maleável e quente. Bauman a descreveria com apuro, mas sem jamais alcançá-la.

Os editores a extraem de sua natureza acanhada e no fervor da sua exposição encontra os críticos. Esses, por sua vez, a transformam em palavras congeladas.Contudo, quando essas palavras entram em contato com sensíveis leitores sublimam em um piscar de olhos. É esse o processo de purificação dessa substância, que extrai a poesia leve e gasosa, enquanto a prepotência do poeta escorre pela válvula dos excessos.

Capitalistas detestam essa fórmula, pois a julgam ineficiente. Dizem não conseguirem atingir nenhum estado gasosos, ou, se conseguem, dizem ser tão volátil que os escapa. Querem então propor uma alquimia reversa, tentam decifrar o ouro reduzindo-o em partes. Gramática, semiótica, psicologia e a ciência que mais lhes for útil. Porém, até agora só encontraram frases de efeitos ilusórios, perecíveis e impotentes.

Esquecem ser impossível estudar a anatomia de um dragão chinês. Esquecem que o valor do ouro está em sua raridade. Esquecem que mesmo sem valor, o ouro ainda reluz e seu brilho é suficiente para um pequeno pássaro adornar seu ninho.