À espera de minha salvadora passo os dias sentado. Sentado nos mais diversos lugares, bancos, cadeiras, carteiras, sofás, poltronas e até meio-fios, escadas e muros. Sempre que posso sento e espero, afinal por que esperar em pé? Porém, ultimamente, essa espera tem me trazido uma dor nas costas (pra ser específico, na lombar). Pois é, bem uma dorzinha de velho mesmo. Mas a verdade é essa, eu sou um velho de ainda vinte e poucos anos. Esperar e ter paciência são coisas de velhos, os jovens não são assim, são efusivos, de ritmos alucinados, sempre com pressa. Só que o meu problema não é esperar, admito meu espírito idoso paciente. Meu problema é outro, meu problema é o que estou a esperar. Uma salvadora eu disse antes, mas quem espera uma salvadora? Suponho que alguém em perigo, certo? Mas que tipo de perigo? Respondo sem pudor, somente a você meu gentil leitor, que o perigo é de domínio do coração. Para ser novamente específico tenho que dizer que o perigo não é só do domínio do coração, mas também de total domínio do coração. De um coração tirano, dominador de todo meu ser. Aí está o perigo da qual espero sentado uma salvadora. Agora percebe o problema, não?
Quando mergulho em água gelada sinto meu corpo inteiro, sinto meu coração bater mais forte, meus pelos arrepiarem, meus membros tremerem. Quando mergulho no gelado eu sinto a vida, eu vivo. Mergulhar no gelado também é renovar, é afundar na dor, na culpa, no sofrimento e então sair animado, pulando, querendo sentir o calor.
sábado, 23 de novembro de 2013
Promessa falsa
Quando você me olhou, por um instante arrepiei
Quando me tocou, invadiu minha mente um pensamento dominador
Quando me tocou, invadiu minha mente um pensamento dominador
Quando se entregou no quarto escuro, apaguei as luzes da minha guarda
E quando finalmente me beijou, pela sua língua recebi uma promessa
E quando finalmente me beijou, pela sua língua recebi uma promessa
Assinei o contrato sem perceber que ele estava vazio
E a dor desse mal entendido virou minha companhia na rotina solitária
Sei que essa paixão vai evaporar no calor desse dezembro,
Sei que essa paixão vai evaporar no calor desse dezembro,
Mas e então o que me sobra?
Sou uma frágil vítima presa no olhar da eterna sereia metamórfica
Essa sereia cada vez tem um nome, cada vez tem um rosto
escritos de guardanapos
Hoje ela me disse "você tem bom gosto", mas será? Bom gosto tem quem toca aquilo que gosto de ouvir, é diferente. Mas de qualquer jeito eu gostei dela ter comentado isso. De certa forma eu só queria puxar um assunto quando perguntei se ela queria escolher uma música. Gosto quando ela fica um tempo perto da minha área.
Ela não queria pegar chuva e era claro que, escuro do jeito que estava àquela hora do dia, que ia chover. Tive que resolver esse problema. Com esforço segurei o máximo que pude a chuva, mas vi que não ia adiantar. Foi por isso que mudei de estratégia, soltei a chuva toda de uma vez e depois torci pra acabar antes dela ir embora. Não gosto de me gabar, mas deu certo. Salvei o dia dela e meu. Ela seca e aliviada por não se molhar e eu feliz por ser seu salvador.
São três aqui onde trabalho, duas flores e um sol. O sol, como vocês já sabem, é o sol e não há nada na Terra comparável a ele. Já as flores se pode comparar, tanto entre si como com outras coisas, mas é perda de tempo. Cada uma delas tem sua beleza, seu charme, seu perfume. Gosto das três sem precisar compará-las, mas só o sol tem luz própria, só o sol é necessário. O resto, por mais que eu goste, não tem o poder de dar e tirar a minha vida.
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Bruma
Névoa densa amanhece na deserta lagoa da Pampulha. O sol ainda tímido não tem forças para rompê-la.
Na margem ela já deu início a sua corrida matinal. Enquanto corre, o vento úmido toca seu cabelo moreno, formando ondas de ressaca. São chicotes delicados regendo silenciosa sinfonia.
A orquestra é formada: de sua pele parda, maculada por pincel metálico, melhor quadro que Miró nunca teve; de seu corpo argiloso, moldado a cada passo por mãos de artesão divino; e de doce olhar impenetrável.
Seu rito solitário continua como dança sedutora. A neblina prevalece. Bruma e Bruna são uma só. Incerta e misteriosa sombra do dia.
Na margem ela já deu início a sua corrida matinal. Enquanto corre, o vento úmido toca seu cabelo moreno, formando ondas de ressaca. São chicotes delicados regendo silenciosa sinfonia.
A orquestra é formada: de sua pele parda, maculada por pincel metálico, melhor quadro que Miró nunca teve; de seu corpo argiloso, moldado a cada passo por mãos de artesão divino; e de doce olhar impenetrável.
Seu rito solitário continua como dança sedutora. A neblina prevalece. Bruma e Bruna são uma só. Incerta e misteriosa sombra do dia.
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