quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Água pro chá


Não tenho Deus, mas tenho ela, mulher que espanta as mazelas.
Quem eu era, debaixo dos seus lençóis, se perdeu.
A água pro chá fervíamos na panela
Esquentava nosso tempo e fazia passar o frio meu e teu.

Frio gelado que vinha acompanhado da distância de nós mesmos,
Ou ao menos de mim mesmo.

Prazeres escorregadios desse mais longo relacionamento.
Nesses dez meses não pestanejava não fazia racionamento.
Esqueci da angústia e da solidão,
Mas que vinham mesmo assim, principalmente, em sessão.

Agora bebo o amargo por você ter pagado o pato.
E mesmo depois de tudo que passou você me olhou com amor
E meu alívio foi imediato.

Cansei de não merecer ser feliz, mas ser feliz exige tempo
Para saber separar a água do álcool e a culpa da dor.


Olhos puxados


Seus olhos me puxaram para fora de mim.
Corria para dentro, mas, com força, batia
Em uma parede de culpa que guardava um jardim.

Naquele dezesseis de março lutava contra um motim.
Logo me vi encurralado e indiferente me debatia.
Então apressado cai nos seus braços sem fim.

Achei que tinha ganhado essa luta dentro de mim,
Mas não se ganha da indiferença, que ali havia,
Sem sentir os espinhos das rosas desse inabitado jardim.

Você nisso tudo vivia inteira e intensamente ,
Lutava e ganhava muitas lutas internas,
Deixava a criança nascer e sair naturalmente,
Abrindo seus lindos olhos puxados para as cavernas .

Acreditando no mais simples e profundo do coração,
Que arritmado procurava uma dança.
Inusitada ela veio, no início como uma valsa mansa,
Mas depois como um funk se acabou até o chão.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Argumento: Satisfaction



Amanda está sozinha em um pub no centro de BH. O lugar é de um escuro avermelhado e está tocando "Satisfaction" dos Rollings Stones. Ela é uma jovem loira de 29 com roupas chamativas e um olhar sedutor, mas um pouco caído, talvez por causa da bebida. Tem o corpo de uma prostituta, ou seja, o suficientemente em forma. Ela fará o possível para sair acompanhada com algum homem bonito de papo razoável. Porém se não conseguir irá escolher qualquer um, e isso ela tem certeza que conseguirá.


Amanda é mãe solteira e tem duas crianças em casa, um casal. Pensa neles constantemente no tempo em que está no pub. Eles estão com a tia essa noite, mas algo a preocupa. Mais uma vez Amanda se pega pensando, dessa vez sobre o porquê dela estar ali naquele lugar. Todas as semanas ela sai sozinha e volta acompanhada é como uma distração para ela, algo que a faz sair da rotina. Porém ela está cansada disso, pois não consegue se satisfazer. Ao pensar nisso ela sente falta dos filhos.

Um homem bonito chega ao balcão e conversa com ela. Oferece uma bebida, uma vodka. Ela aceita, mas pensa que preferiria uma cerveja. Conversam a principio sobre a vida noturna daquela pouco movimentada quarta-feira e depois falam sobre musica, rock clássico basicamente. Ela da o segundo gole na vodka olhando para ele de baixo pra cima (ela está sentada e ele apoiado no balcão). Ela parece ter conseguido aquilo que queria. Porém após acabar a bebida se despede e sai do local sozinha.

Agora ela está descendo a Av. Augusto de Lima, que tem algum movimento e barulho de conversas vindo dos bares. O álcool já subiu e ela mal consegue manter o olho aberto e caminhar. As pessoas na rua reparam nela e percebem um olhar distante, mas não perdido. Ela finalmente chega no ponto de ônibus e pega o coletivo pra casa.Sentada perto do cobrador ela tira da bolsa uma foto com os dois filhos. FIM.