terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Navego


Navegando deparei-me com um passado esquecido. É estranho, não gosto de esquecer. Porém esse é diferente, é tão especial e único que dói. É incômodo como consigo deixar essas lembranças para trás, quase apagadas de tudo, como se não fizessem parte da minha história.

Sereia devastadora me trouxe apenas lembranças confusas e pesadas, difíceis de sustentar, mas impossíveis de abandonar. Agir, sentir, falar pareciam cálculos frios para lhe aquecer.  Ela me levou ao mar aberto, perigoso, onde não navego mais.

Minhas inspirações, coragens, anseios e sonhos, assim como meus medos, aflições, desilusões e receios vieram como uma onda surgida de sua presença. Quando percebi já estava na boca do redemoinho, seduzido pelo abismo do esquecimento de mim mesmo.

Sobrevivi a essa aventura e busquei terras novas em outros mares. Deixei o vento guiar as velas do meu coração. Atraquei e desbravei novas terras. Plantei e morei em algumas, mas sempre a saudade nostálgica seguida de um sentimento de incompletude me faziam prosseguir inconformado.

Até descobrir o que faltava descobrir. Terra donde vim e para onde vou, terra de mim mesmo. Terra abandonada ao me deixar levar pelas correntezas. Escolho, então, o regresso e para isso descanso as velas e forço o remo contra o fluxo.

Porém sinto um medo e ao mesmo tempo uma curiosidade encorajadora de conhecer suas florestas e mergulhar em seus lagos.  A sereia, por sua vez, não me deixa, fica a espreita seguindo minha trilha pelo fundo. Gosto de sua presença, mas tremo ao ouvir seu canto noturno de desilusão.

Deixa pesar

Menina Nina me nina no berço de ninar.
À noite sina é mais leve que o ar.

Porém ensina, só dormindo se pode acordar
Sem, acima do chão, sentir-se. Deixa pesar

Pedra da mina que faz coração pousar.
Vida contamina o sonho, mas é meu lugar.